domingo, 9 de dezembro de 2012

Almerinda Cunha recebe Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2012


Recebi este texto enviado por Almerinda Cunha, em 07 de dezembro de 2012 e o publico no Blog.

ALMERINDA DE SOUZA CUNHA OLIVEIRA





 “Almerinda escapou de morrer no dia “D”, o famoso dia onde a frente do Palácio Rio Branco virou praça de guerra. Alguém morreu no lugar dela pela semelhança física e estar vestida igual a ela. Tudo começou com uma pacífica manifestação dos estudantes contra o abusivo aumento das passagens de ônibus. Maria José, presidente dos Bancários e Almerinda, da Educação, foram socorrer e apoiar a luta estudantil. A força policial reprimiu com violência o movimento, tomando o carro de som, puxando armas, chutando e espancando com cassetetes as pessoas. Os deputados vieram socorrer o movimento, mas também um teve que sacar da arma para se defender. A população ouvindo pela rádio veio pra praça e aí foi o pior confronto. Povo de um lado com pedras na mão e PM do outro com escudo e cassetetes, alguns com fuzil. A polícia civil ficou do lado do movimento. Vítimas caiam no chão. Foi desespero... Chutaram tanto uma mulher pensando que era a Almerinda. Quando a vítima espancada foi procurada no Pronto Socorro pelo Deputado Edmundo Pinto e Almerinda a pessoa tinha sumido. Dois anos depois, dando uma palestra em Plácido de Castro, um policial, que também era professor, informou que a moça tinha morrido e deram sumiço no corpo.”


INSTITUIÇÕES E PESSOAS QUE INDICARAM PARA O PRÊMIO:

1. CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES – CUT
CNPJ: 60.563.731/003788
Endereço: Rua Alexandre Farhat, 112, Bairro Bosque – Rio Branco/AC
CEP.: 69.909-410
Telefone: 3223-5760


2. REDE ACREANA DE MULHERES E HOMENS - RAMH
CNPJ: 63.603.658/0001-08
Endereço: Travessa Primavera, 084 Baixada da Colina – CEP 69907-290
Rio Branco/AC
Telefone: 3224-8607
Endereço eletrônico: redeac@hotmail.com


3. LÚCIA MARIA RIBEIRO DE LIMA – CONSELHEIRA/CDHAC
CPF: 216.842.942-15
Endereço: Rua Luiz Z da Silva/Conjunto Manoel Julião Bl. A3 Aptº 110
Rio Branco/AC
CEP.: 69.918-452
Telefone: 8419-4176



JUSTIFICATIVA DO PORQUE DA INDICAÇÃO:

Da qualificação

Almerinda Cunha, como é mais conhecida, filha de pai soldado da borracha e mãe dona de casa, tem 10 irmãos e irmãs, écasada com o professor Luiz Carlos de Oliveira e mãe de dois filhos. Éformada em Pedagogia, com habilitação em administração escolar epós-graduada em metodologia do ensino superior.
Nascida em Porto Velho/Rondônia, veio para o Acre em 1971, fixando residência no bairro Seis de Agosto, lá vivenciou todas as alagações até 1981, quando casou e mudou de bairro. Durante o tempo que morou na Seis de Agosto, através de grupo de jovens, participou de várias atividades, como quadrilhas, entre outras, visando resgatar e fortalecera importância histórica do bairrocom o objetivo de desfazer a fama de que o local era perigoso, etc.
Em 1979 Almerinda passou a exercer o ofício de professora, lecionando para a 2ª série, na Escola Roberto Sanches Mubarac. No exercício da sua atividade profissional foi professora dos dois seguimentos: ensino fundamental e ensino médio, ministrando as disciplinas de ciência e didática.

Das CEB’s:

Almerinda participava do Grupo de Jovens Movimento de Jovens Unidos ao Evangelho – MJUE vinculado às Comunidades Eclesiais de Base, da Igreja Católica,  que recolhia sacolão e nas noites de Natal fazia doações para os ribeirinhos do Igarapé da Judia. Na década de 1970, o MJUE fazia teatro nas igrejas denunciando a invasão dos fazendeiros sulistas.


 Da militância sindical

Em 1979, como professora associada à Associação dos Professores do Acre – ASPAC, Almerinda participava das lutas encabeçadas pela entidade. Na década de 1980 assumiu a presidência da Associação, que até então enfocava suas lutas apenas para a categoria dos professores. A partir de 1982, assumiu a liderança do movimento sindical, transformou a ASPAC em Sinteac e passou a lutar pelo conjunto dos trabalhadores em educação. Neste período as principais bandeiras de luta foram: educação para todos, qualidade da educação, melhores condições de trabalho e de salário.
No auge da luta sindical Almerinda, juntamente com um grupo de trabalhadores, foi demitida, pela Governadora Iolanda Lima que exigiu que o prefeito de Rio Branco, à época, Adalberto Aragão, a demitisse também. Na oportunidade, perguntou o Prefeito: “o que a neguinha fez: Roubou? Matou? Não? Então não demito.”
No decorrer da militância sindical, Almerinda, que foi Secretária Geral da Central Única dos Trabalhadores - CUTrecebeu ameaças de morte e andou escoltada.
Cumpre destacar que por conta da luta sindical, em parceria com Valdomiro, Sônia, Vilma foi criado o primeiro plano de cargos e salários, à época os professores ganhavam menos que as merendeiras. Tinha certificado falsificado, visto que os professores eram indicados pelas autoridades, uma vez que não havia concurso público. Em 1987, o plano foi aprovado, os professores e professoras comemoram com uma caminhada debaixo de chuva, gritando palavras de ordem.
Outra conquista importante foi a luta por gestão democrática no estado para eleição de diretores de escola e inspetores de ensino. Por conta da mobilização sindicalo Acre foi um dos primeiros estados a adotar esta prática. O Projeto de Lei apresentado pelo então Deputado Estadual Manoel Pacífico que garantia eleição direta foi votado e aprovado em 1992, mas só foi regulamentado em 1997. Por esta razão a lei foi implementada na marra. Buscando realizar eleições em Feijó, ela foi expulsa do município, sendo socorrida pela Irmã Marita. Em Sena Madureira, visando realizar eleições, ouviu que quem mandava lá era o Prefeito Normando Sales.
Almerinda liderou uma luta histórica pela isonomia salarial dos trabalhadores em Educação, que durou 09 (nove) anos. Ressalte-se que os Trabalhadores da Educação recebiam menos que os demais funcionários do Estado com a mesma formação e o mesmo trabalho.
Almerinda abraçou a luta dos funcionários de escola por direito à faculdade, a exemplo dos professores. O Acre foi o primeiro estado do Brasil a conquistar nível superior para esta categoria.
A luta sindical foi marcada pelo desejo de liberdades democráticas, qualidade da educação, passeata contra a carestia, e solidariedade aos trabalhadores. Momento em que o então governador Flaviano Melo demitiu mil trabalhadores,de uma vez só vez, Almerinda estava à frente das manifestações: acenderam velas, rezaram, fizeram vigílias em frente ao Palácio Rio Branco, etc.
Almerinda Cunha, como militante urbana e cutista, apoiou também a luta dos trabalhadores rurais, participando do Grito da Terra Brasil, colaborando nas mobilizações, fazendo comida para os trabalhadores, durante os acampamentos e comandando a animação, nos atos e assembléias.
Atualmente, apóia a luta e organização das empregadas domésticas na jornada pela ampliação dos direitos trabalhistas.

Das questões de gênero:

Almerinda participou ativamente do Movimento de Mulheres do Acre – MMA, juntamente com Teotista, Sônia Chaves, Maria Lúcia Régis, Ália Ganun, entre outras mulheres corajosas. Hoje ela está filiada à Rede Acreana de Mulheres e Homens, participando assiduamente de todas as mobilizações relacionadas às reivindicações das mulheres. Além de ter ótimas relações seja com a equipe da Coordenadoria Municipal da Mulher de Rio Branco, seja da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres.
A luta pelo fim da violência contra a mulher veio junto com a luta sindical, ocasião em que o Capitão Diomedes matou a ex mulher, que era filha da D. Gislaine Salvatierra, representante do núcleo da Secretaria de Estado de Educação em Brasiléia, o capitão ficou impune, ao mesmo tempo outras mulheres foram assassinadas, como a Lucibete, no Banacre, Raimunda Balbino, entre outras, o movimento sindical organizou várias passeatas pedindo o fim da impunidade. Nesta época estava em vigor o fundamento que tentava justificar o homicídio das mulheres: “matou em legítima defesa da honra.”
Em seu primeiro casamento Almerinda foi vítima de violência doméstica e psicológica. Às vezes o marido amolando a faca dizia: “esta faca não é pra mim, não.” Sofreu maus tratos, ameaça de morte, etc. Os motoristas do Sinteac não queriam dirigir o carro com medo do ex-marido dela que fazia gestos de disparo de revólver. Muitas vezes, durante as manifestações, ela estava em cima do caminhão/palanque discursando e o marido fazendo gestos ameaçadores em baixo. Por várias vezes, as colegas dirigentes do Sinteac a protegiam com o corpo, fazendo cordão de isolamento, após as manifestações sindicais e políticas. Foi necessário colocar uma grade de ferro na sede do Sinteac para protegê-la e as demais dirigentes.
Almerinda é militante da causa de combate à violência contra a mulher e construindo novas relações de gênero na educação. Por isso faz palestras e seminários e organizou, juntamente com outras, a apostila: “Trabalhando gênero na escola”, que foi reproduzida e encaminhada para as escolas da rede de ensino.
Realizou através do FPEER/AC e SEPMULHER 02 (dois) seminários de gênero e raça orientando as escolas nessas temáticas.

Da promoção da igualdade racial

Almerinda Cunha se aproximou do movimento de promoção da igualdade racial e combate ao racismo, iniciadono estado do Acre em 2003, sendo ampliado em 2005, quando assumiu a coordenação do Coletivo de Combate ao Racismo do Sinteac e da CUT. Em 2008 foi criado o Fórum Permanente de Educação Étnico Racial do Estado do Acre, com atuação em vários municípios do estado. Várias atividades foram realizadas tais como: Seminários, Palestras, Semana da Consciência Negra, (festa da Kizomba, mobilização das escolas, produção de material).
A partir da criação do Fórum Permanente de Educação Étnico-Racial - FPEER, em 16/06/2008, foram realizados seminários, cursos, formação, oficinas pedagógicas: bonecas étnicas para orientar a educação; cabelo afro para elevar a autoestima da população negra; sensibilização através da música afro brasileira, jogos matemáticos para ajudar as crianças na aprendizagem; capoeira;literatura infantil, contos africanos.
Produziu, em parceria com outras pessoas, material didático: “Quinzena da Consciência Negra”, essa apostila orienta como trabalhar o preconceito racial, desconstruindo o racismo.
Cumpre destacar a realização de 04 encontros da mulher negra e 02 encontros de mulher indígena para refletir sobre a condição das mulheres do ponto de vista da raça e etnia.
Destaque-se, ainda, a luta no plano estadual, para a criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra a fim de chamar a atenção das autoridades e da população para as doenças com maior incidência sobre a população negra, neste sentido vale ressaltar os diálogos travados com a Secretaria de Estado da Saúde para a realização do exame da anemia falciforme.
Convém acrescentar que a participação de Almerinda foi fundamental para a criação do Comitê Gestor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Rio Branco, criado, em 2011, para trabalhar as questões de promoção da igualdade racial e combate à discriminação.

Dos Conselhos de Direito:

Integrou o Conselho Estadual de Educação por 04 anos e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.
Recentemente Almerinda Cunha foi eleita a primeira presidenta do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Rio Branco, criado em 2012.

Da participação política

Almerinda Cunha foi filiada ao PMDB e posteriormente ao PT, ocupando hoje o cargo de Secretária Estadual de Combate ao Racismo. Foi candidata a Deputada Estadual em 1989 e 1992 e não foi eleita,talvez porque disse que se fosse eleita botaria os assassinos de mulheres na cadeia.
Por fim, Almerinda Cunha é a encarnação da música Maria Maria, de Milton Nascimento:

Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
Conceder a Almerinda Cunha o Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2012 é reconhecer que a luta dela, que também é de todos nós, vale a pena.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Carta para ELIZA VIRGÍNIA enviada por várias ONGs

CARTA À PARLAMENTAR ELIZA VIRGÍNIA QUE DESCONHECE LUTAS DO MOVIMENTO FEMINISTA E A NECESSIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES 

Prezada vereadora Eliza Virgínia,

A violência é uma violação dos Direitos Humanos que afeta em todo o mundo milhares de mulheres de diferentes idades, classes sociais, regiões, grupos étnico-raciais, graus de escolaridade e religiões. D
ados nacionais indicam que o Brasil ocupa a sétima posição na incidência de homicídios de mulheres, em um ranking mundial onde estão sendo considerados 84 países. De 1980 a 2010, triplicou o número destas mortes sendo assassinadas uma média superior a 92 mil mulheres no Brasil, das quais 43,5 mil ocorreram nesta última década (WAISELFIZ, 2012).
O estado da Paraíba se encontra em 7º lugar no ranking de taxas de homicídio feminino, no qual João Pessoa assustadoramente está em 2º (WAISELFISZ, 2010). Somente neste ano, na Paraíba, foram assassinadas 122 mulheres segundo dados da Secretaria Pública e Defesa Social da Paraíba, foram 98 estupros e 62 tentativas de estupro segundo a ONG Centro da Mulher 8 de Março. Distintas pesquisas evidenciam que em mais de 70% dos casos, a violência é cometida pelo atual ou ex-companheiro/marido/namorado, e, em geral, na própria residência (AMARAL et. al., 2001; VENTURI; RECAMÁN; OLIVEIRA; 2004, FUNDAÇÃO..., 2010).
A senhora alegou na Câmara Municipal de João Pessoa, nesta quinta feira, dia 06 de dezembro de 2012, em uma discussão sobre a Leia Maria da Penha que as feministas “são mal amadas e, por isso embutem/imprimem na cabeça/consciência das mulheres a ideia de que os homens não prestam”; tal afirmação evidencia sua desinformação a respeito do feminismo, do machismo e da dinâmica da violência contra mulheres presente na sociedade contemporânea.
O Movimento Feminista, desde a década de 1970, tem sido protagonista na publicização da violência contra as mulheres no Brasil, através de debates e denúncias de crimes considerados de cunho privado, tem pressionado governos nas esferas federal, estadual e municipal para a implantação de políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero decorrendo na criação de Secretarias e ações governamentais para mulheres. Assim como na criação de Centros de Referência da Mulher, Casas Abrigo, Delegacias de Atendimento às Mulheres. Além das ações políticas contra a violência, o Movimento Feminista brasileiro têm lutado em várias em esferas, sempre em defesa da ampliação dos direitos das mulheres e da igualdade entre os gêneros.
Feministas que atuam ou nas universidades, ou nos movimentos sociais, ou na administração pública, têm intensamente trabalhado para romper com relações de poder profundamente desiguais, historicamente construídas, que subsidiam os processos de opressão das mulheres em diferentes esferas. Os órgãos de atendimento às mulheres em situação de violência têm contribuído para a conquista da boa autoestima, da autonomia e da emancipação das mulheres, a partir de ações globais e locais com atendimentos interdisciplinares, visando preservar a vida e garantir os direitos das mulheres, respeitando suas próprias escolhas.
É um absurdo acreditar que nós feministas consideramos que os homens são inimigos das mulheres. Em nossa perspectiva não há resistência aos homens e sim a uma estrutura social patriarcal que aloca aos homens poderes para normatizar, controlar e disciplinar a conduta das mulheres, utilizando diferentes formas de humilhação e privação. Temos lutado historicamente para que mulheres tenham acesso às melhores condições de vida e de trabalho, à moradia, à educação, por uma maior participação na política e para o exercício de mandatos legislativos e executivos.
Nunca é demais salientar que graças a uma das vitórias do Movimento Feminista – o direito de mulheres votarem e serem votadas, no ano de 1932 –, a senhora ocupa um mandato na Câmara Municipal. No entanto, lamentamos ter uma mulher ocupando um espaço público que faça declarações equivocadas, fundamentalistas e lesbofóbicas que caminham na direção oposta às lutas históricas de enfrentamento a violência de gênero e aos direitos humanos das mulheres.
Finalizamos, compartilhando o pensamento da feminista negra bell hooks (2000): imaginem viver num mundo onde não haja dominação, onde mulheres e homens não são parecidos nem são sempre iguais, mas onde uma visão de reciprocidade seja o ethos que modela nossa interação. Imaginem viver num mundo onde possamos todas e todos ser quem somos, um mundo de paz e possibilidade. A revolução feminista sozinha não criará esse mundo; precisamos acabar com o racismo, elitismo de classe e imperialismo. Mas a revolução feminista possibilitará que sejamos mulheres e homens plenamente auto-realizados, capazes de criar uma comunidade amorosa, de viver juntos/as realizando nossos sonhos de liberdade e justiça, vivendo a verdade de sermos todas/os “criadas/os iguais”. Aproximem-se. Vejam como o feminismo pode tocar e mudar suas vidas e as vidas de todos/as nós. Aproximem-se e saibam em primeira mão do que trata o movimento feminista. Aproximem-se e verão: o feminismo é para todos/as, inclusive para a senhora, vereadora Eliza Virgínia.


NIPAM/UFPB – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação Sobre Mulher e Relações de Sexo e Gênero
REDOR – Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher e Relações de Gênero
NEABI/UFPB – Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiras e Indígenas
NEPIERE/UFPB – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Informação, Educação e Relações Étnico-raciais
GEINCOS/UFPB – Grupo de Estudo Integrando competência, construindo saberes, formando cientistas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre os 16 dias de ATIVISMO

UMA BREVE EXPLICAÇÃO sobre o que significam os 16 dias de ATIVISMO:




2012 - ANÚNCIO TEMA
Center for Women’s Global Leadership
Rutgers, The State University of New Jersey

http://cwgl.rutgers.edu

Da paz em casa até à paz no mundo:
Vamos Desafiar o Militarismo e Acabar com a Violência Contra as Mulheres!

A campanha dos 16 Dias de 2012 vai continuar com o tema global: da paz em casa até à paz no mundo: Vamos Desafiar o Militarismo e Acabar com a Violência Contra as Mulheres! A campanha deste ano marca o nosso terceiro ano de advocacia contra as intersecções na violência baseada no género e no militarismo. Baseado nas respostas dos indivíduos e das organizações participantes, o Centro Para a Liderança Global da Mulher (Center for Women’s Global Leadership em inglês), como coordenador global da campanha, continua a juntar participantes para desafiar o militarismo e para explorar as profundas estruturas socioeconómicas que perpetuam a violência baseada no género.

O militarismo permanece uma fonte chave para a violência contra as mulheres. Como uma ideologia que cria uma cultura de medo, o militarismo apoia o uso de violência, agressão, e de intervenções militares para resolver conflitos e para reforçar interesses econômicos e políticos. Os impactos do militarismo são profundos, com impactos materiais, institucionais, culturais, e psicológicos em todas as nossas comunidades. Privilegia formas violentas de masculinidade, e pressupõe que a violência é uma forma eficaz de resolver problemas. O militarismo frequentemente tem graves consequências na nossa sociedade como um todo, incluindo mulheres, crianças e homens. Desde a violência sexual em conflito até à proliferação de armas de brincar, o militarismo influencia a maneira como vemos as mulheres e os homens, as nossas famílias, vizinhos, vida pública e países específicos NOTA1.

Em 2011, cinco áreas de prioridade (nota2) que surgiram do tema global foram identificadas por um grupo de pessoas experientes a nível global. São: 
(i) violência política contra a mulher; 
(ii) a proliferação de pequenas armas e o seu papel na violência doméstica; 
(iii) violência sexual durante e pós-conflito; 
(iv) o papel de Representantes Estaduais (State Actors)como perpetradores da violência sexual e baseada no género; e 
(v) os papéis das mulheres, da paz, e dos movimentos de direitos humanos a desafiar as ligações entre o militarismo e a violência contra as mulheres.

Tendo em conta as respostas dos participantes da campanha de 2012, a Campanha 16 Dias deste ano vai dar destaque a três das cinco áreas de prioridade:
1. Violência perpetrada pelos Representantes Estaduais (State Actors): Os Governos e os representantes estaduais (state actors) usam a violência para cumprir objetivos políticos, empregar ideologias militares e a necessidade de “segurança estadual” para fazer passar a violência e a intimidação por medidas de “segurança”. Dentro da cultura de violência do militarismo, os indivíduos em posição de autoridade acreditam que podem cometer crimes com impunidade, o que é exemplificado pelas altas taxas de violência sexual dentro do exército, ameaças da polícia a mulheres que apresentem queixa de violência ou agressão, assédio e intimidação contínua, testes de virgindade forçados em protestantes femininas pelas autoridades, e violência contra as mulheres que vivem e trabalham perto de bases militares. Os defensores dos direitos da mulher que trabalham em assuntos relacionados com direitos econômicos  sociais e culturais, bem como os direitos civis e políticos são também alvos. A falta de responsabilidade por parte do estado e o fracasso de castigar os perpetradores da violência sexual e baseada no gênero continuam a ser um desafio exigente para acabar com o militarismo em todo o mundo.

2. Violência doméstica e o papel de pequenas armas: A violência doméstica, um assunto duradouro sobre o qual organizações de mulheres já confrontaram, continua a ser uma realidade em todos os países do mundo. Estima-se que a maior parte das mulheres em todo o mundo experienciaram violência por parte de um parceiro íntimo em alguma parte das suas vidas (nota 3). Esta violência torna-se ainda mais perigosa quando pequenas mas perigosas armas (por exemplo pistolas, facas, etc.) estão presentes na casa, pois podem ser usadas para ameaçar, magoar e/ou matar mulheres e crianças. Não só as pequenas armas facilitam a violência contra as mulheres, também perpetuam uma forma violenta de masculinidade. Independentemente do contexto (conflito ou paz), a presença de armas tem invariavelmente o mesmo efeito: mais armas significam mais perigo para as mulheres. Assim, este ano vamos continuar a examinar o comércio e a proliferação de pequenas armas e o seu papel na perpetuação da violência contra as mulheres, no geral, e da violência doméstica, em particular. Enquanto que vitórias consideráveis tenham sido feitas, nas formas de reformas legais e de serviços, muitas organizações de defesa das mulheres continuam a trabalhar neste assunto urgente.

3. Violência sexual durante e pós-conflito: Os contextos de violência sexual durante e após o conflito são usados para reforçar hierarquias políticas e baseadas no gênero  Também são usados como tática para conduzir o medo, e para humilhar e castigar mulheres, as suas famílias e as suas comunidades. Enquanto que têm havido mais atenção direcionada a este crime nos anos mais recentes, a violência sexual continua a ser uma das maiores barreiras para a segurança e reintegração das mulheres, pois os seus efeitos são fisicamente, psicologicamente e socialmente debilitantes. A instabilidade e insegurança que armaram conflitos têm tendência a agravar violência contra as mulheres e tornar as suas formas mais extremas, mais generalizadas e/ou fatais. Mesmo depois do fim de um conflito “reconhecido”, a violência sexual pode continuar a ter altas taxas em casas e comunidades quando permanece um ambiente militarizado. Muitas organizações de defesa da mulher têm realçado a separação artificial criada por condições como conflito e pós-conflito, citando que a violência militarizada continua para as mulheres apesar do fim de uma guerra formal.
A Campanha dos 16 Dias deste ano oferece uma oportunidade de refletir no que nós, como ativistas dos direitos das mulheres, podemos fazer para que os nossos governos deem conta e desafiem as estruturas que permitem que a violência baseada no gênero continue. Como sempre, a CWGL (Center for Women’s Global Leadership) encoraja os ativistas a utilizar a Campanha dos 16 Dias para se concentrarem nos assuntos que são mais relevantes nos contextos locais. A participação nesta campanha não só nos oferece a oportunidade de advogar contra, e dar conhecimento sobre, a violência baseada no gênero  como também nos permite juntar as nossas vozes às das mulheres de outros países e regiões que se recusam a ficar caladas. A violência baseada no gênero é um assunto que nos afeta a todos em múltiplos níveis. Dentro deste contexto os nossos governos devem ter a responsabilidade de responder, proteger e prevenir.

Sobre a Campanha dos 16 Dias:

Os 16 Dias de Ativismo Contra a Violência de Gênero são uma campanha global dedicada a acabar com a violência baseada no gênero  O Centro Para a Liderança Global da Mulher (CWGL, em inglês) é o coordenador global. O início da Campanha é a 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Baseada no Gênero  e termina no dia 10 de dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Estas datas foram escolhidas para destacar que a violência baseada no gênero é uma violação dos direitos humanos. A Campanha tem sucesso por causa do ativismo de milhões de mulheres e de dez mil organizações em todo o mundo, que estão comprometidas a acabar com a violência baseada no gênero. 4

Materiais do Kit “Entrar em Ação” de 2012:

A CWGL está a desenvolver o Kit “Entrar em Ação”, que contém recursos para ajudá-lo a organizar as suas atividades da Campanha 16 Dias. O Kit vai estar disponível em várias línguas a partir de agosto. Os participantes podem visitar o nosso website (http://16dayscwgl.rutgers.edu) para descarregar os materiais do Kit “Entrar em Ação” ou para solicitar uma cópia impressa. Não se esqueça de adicionar os seus eventos ao nosso Calendário da Campanha online! Obrigado!

- Como ficar ligado e aprender mais 
O Site Oficial da Campanha dos 16 Dias:
 http://16dayscwgl.rutgers.edu

- Publique e procure eventos no Calendário da Campanha online: 
http://16dayscwgl.rutgers.edu/campaign-calendar 

- Junte-se à lista dos 16 Dias:
 https://email.rutgers.edu/mailman/listinfo/16days_discussion Facebook: http://www.facebook.com/16DaysCampaign 
Flickr: http://www.flickr.com/photos/16dayscampaign 
Twitter: https://twitter.com/#!/CWGL_Rutgers 16 Days 
Twitter hashtag: #16days
 YouTube: http://www.youtube.com/user/CWGLRutgers 

Envie-nos um email a qualquer hora! 
16days@cwgl.rutgers.edu

Traduzido por/Translated by Inês Tavares

NOTAS:
1 Centro Para A Liderança Global das Mulheres. 2011. “ Relatório das Interseções da Violência contra as Mulheres e do Militarismo” http://www.cwgl.rutgers.edu/resources/publications/gender-based-violence/388-intersections-of-violence-against-women-and-militarism-meeting-report-2011.

2 Centro Para A Liderança Global das Mulheres 2012. “16 Dias de Ativismo Contra A Violência do Género: Sumário Analítico.” http://16dayscwgl.rutgers.edu/previous-years/2011/16-days-analytical-summary-2011.

3 Organização Mundial da Saúde. 2005. “Estudo Internacional da OMS sobre a Saúde das Mulheres e da Violência Doméstica contra as mulheres: Resultados Iniciais do Predomínio, Resultados de Saúde e Respostas das Mulheres” http://www.who.int/gender/violence/who_multicountry_study.

4Centro Para A Liderança Global das Mulheres. 2012. “16 Dias de Ativismo Contra A Violência do Género: Sumário Analítico.” http://16dayscwgl.rutgers.edu/previous-years/2011/16-days-analytical-summary-2011.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SEPMulheres oferece apoio a mulher agredida dentro de supermercado


Vi isto hoje no Acre Notícias e coloco no Blog, porque é de vital importância estarmos alertas na luta de combate à violência contra a MULHER.

SEPMulheres oferece apoio a mulher agredida dentro de supermercado

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Estiveram no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) a coordenadora de Direitos Humanos da SEPMulheres, Joelda Pais, e a assessora jurídica Ariadne Santos, a pedido da secretária de Estado de Políticas para as Mulheres, Concita Maia, para oferecer todo o apoio necessário a Aline Tainá.
Aline, 22, levou oito facadas do ex-marido Francisco Jones Souza Araújo, com quem teve dois filhos, enquanto trabalhava em um dos caixas de um supermercado de Rio Branco, no último sábado. Segundo a mãe de Aline, Maria da Conceição, a filha estava separada fazia sete meses de Jones. “Quando ela arrumou um emprego, a situação ficou ainda pior. Ele seguia, perturbava, mesmo. Ela foi à Delegacia da Mulher fazer a queixa e recebeu a medida protetiva”, disse
“Infelizmente, nós não temos o controle da ação do ser humano. Por isso é importante que a mulher, depois de ter feito a denúncia, vá para a casa abrigo até que tenha certeza de que nada possa ocorrer”, explicou a coordenadora de Direitos Humanos da SEPMulheres, Joelda Pais.
“Ele não queria que ela trabalhasse de forma nenhuma. Agredia-a física e verbalmente. Depois que ela arranjou esse emprego, aí, sim, ele não largou mais do pé dela e aconteceu o que aconteceu”, disse Maria da Conceição.
Aline está internada e passou por uma cirurgia no intestino. Ela ainda não fala muito sobre o assunto. A mãe não sai de perto e responde por tudo até que Aline tenha condições de falar tranquilamente sobre o que ocorreu.
“Nós vamos acompanhar todos os procedimentos para ter certeza de que Aline terá os direitos que lhe são garantidos. Esse é o nosso papel: estar perto, estar junto, olhar e acompanhar. A nossa missão é orientar e mostrar o caminho que todas as mulheres podem e devem seguir", declarou a secterária da SEPMulheres, Concita Maia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

NEGA e seu trabalho com mulheres IDOSAS

FONTE:  http://www.contilnetnoticias.com.br/Conteudo.aspx?ConteudoID=20833

 9/10/2012 17:55 - Atualizado em 19/10/2012 17:57
Na Ufac, idosas participam de oficina sobre direitos e deveres
A Universidade da Terceira Idade tem, entre os seus objetivos, a realização da educação não-formal através da promoção de debates, pesquisas e assistência à população idosa.
 
Autora: Gina Menezes, da Agência ContilNet
O ensino não-formal não está necessariamente voltado para a profissionalização
O ensino não-formal não está necessariamente voltado para a profissionalização
Todas têm mais de 65 anos e um sonho em comum: continuar aprendendo. São alunas como a senhora Ercília Silva dos Santos que, aos 82 anos resolveu aprender mais sobre Direito como forma de se “inteirar” sobre os próprios direitos e deveres, como diz ela mesma.

A aposentada é uma das muitas alunas da oficina ministrada pela professora voluntária Risoleta Miranda, através da Universidade Aberta para a Terceira Idade (Unati) da Universidade Federal do Acre (Ufac).

A Universidade da Terceira Idade tem, entre os seus objetivos, a realização da educação não-formal através da promoção de debates, pesquisas e assistência à população idosa.

Mas, cumpre uma missão que vai além disto: renova o ânimo dos alunos. De acordo com a estudante Sebastiana da Silva, de 68 anos, participante da oficina de Direito, a oportunidade de voltar a estudar é boa para que eles mantenham a auto-estima em dia e o capital intelectual intacto. Ela é professora aposentada e voltou a ser aluna através da Unati.

Risoleta Miranda, professora voluntária no projeto, é uma das mais empolgadas com as aulas. Ministrando uma aula sobre a Constituição, a bacharel em Direito se viu em meio a perguntas das alunas idosas sobre o “mensalão”.

Com bom humor e linguagem fácil, a professora explicou como funcionam as votações do Supremo Tribunal Federal no julgamento do caso mensalão, que começou a ser julgado em agosto.

“É uma oportunidade excelente. É bom poder ajudar as pessoas as entenderem sobre Direito. Sinto-me gratificada”, diz.

O ensino não-formal não está necessariamente voltado para a profissionalização. A Unati visa, principalmente, oferecer às pessoas a possibilidade de desenvolver competências que gostariam de ter desenvolvido no curso de suas vidas e que, por várias razões, não puderam realizar.


Risoleta Miranda, professora voluntária no projeto, é uma das mais empolgadas com as aulas/Fotos: Gina Menezes
Risoleta Miranda, professora voluntária no projeto, é uma das mais empolgadas com as aulas/Fotos: Gina Menezes

Nova lei de prisões por OZELIA REGES

Nova Lei de Prisões – das medidas cautelares, e da liberdade provisória - lei 12.403, de 04/05/2011 Imprimir E-mail
Escrito por Maria Ozélia Andrade Reges * e Adolfo Celso Oliveira Reges**   
03-Jun-2011No JORNAL PÁGINA 20
“Se é verdade que o direito penal começa onde o terror acaba, é igualmente verdade que o reino do terror não é apenas aquele em que falta uma lei que e impera o arbítrio, mas é também aquele onde a lei ultrapassa os limites da proporção, na intenção de deter as mãos do delinquente”.
(Bettiol)
O ordenamento jurídico é uma estrutura complexa, constituída de regras, mas, também, de valores e de princípios, ou seja, de categorias axiológicas e deontológicas, que formam uma totalidade ordenada.
É insuficiente, portanto, a concentração do esforço só nas regras – consubstanciadas nas leis escritas – se o objetivo for a ampla e completa visualização do sistema jurídico com o qual pretende operar. A metáfora de Bobbio é bastante elucidativa, quando disse no primeiro capítulo de seu famoso livro “para se conhecer bem as árvores há que se penetrar no interior da floresta!
As leis no seu significado mais amplo são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas; e nesse sentido, todos os seres têm suas leis. As leis devem ser de tal forma adequadas ao povo para o qual foram feitas (grifo nosso).
Nossa aposta é que as leis, para se constituírem e se efetivarem como tal no ordenamento jurídico pátrio possam passar pelo crivo da sociedade, pois como já foi informado as leis devem ser adequadas ao povo para o qual foram feitas. Portanto antes de uma lei entrar em vigência o “povo” deve ser informado através da mídia e da imprensa escrita.
Trataremos aqui, apenas das “novidades” acrescentadas ao Título IX - da Prisão e Da Liberdade Provisória tipificados no artigo 282 e seguintes do Código de Processo Penal.
No dia 4 de maio de 2011, foi publicada a Nova Lei: Da Prisão, das Medidas Cautelares e Da Liberdade Provisória (Lei 12.403/2011). Após o vacatio legis – período de vacância da lei, ou seja, o lapso temporal entre a publicação e a entrada em vigor da lei -, a Lei em comento entrará em vigor no dia 4 de junho de 2011. Os eixos centrais dessa nova legislação passam, dentre outros, pelos seguintes pontos: (a) inclusão da expressão “medidas cautelares no art. 282 do Código de Processo Penal; (b) os princípios da necessidade e da adequação para aplicação da lei penal, bem como a adequação proporcional a gravidade do crime, as circunstancias do fato e as condições pessoais do indiciado ou acusado; (c) a observância do princípio rebus sic stantibus quando decretada a medida; (d) Delegado de Policia não poderá mais representar pela medida; (e) a comunicação da prisão por qualquer meio de comunicação, como por exemplo, por e-mail; (f) conversão da prisão em flagrante  em prisão preventiva; (g) a decretação da prisão preventiva somente em crimes dolosos com pena máxima superior a 4 anos; (h) o cabimento de prisão preventiva  quando houver dúvidas sobre a identidade do agente; (i) o cabimento da prisão domiciliar em substituição a prisão preventiva (j) a monitoração eletrônica aplicada ao réu durante o processo; (l) fiança arbitrada por delegado de polícia nos casos em que a pena máxima não for superior a 4 anos; e (m) a criação de banco de dados nacional.
A Nova Lei acrescenta ao artigo 282 (Da Prisão e da Liberdade Provisória) do Código de Processo Penal as Medidas Cautelares.
Com o advento da Lei 12. 403, de 4 de maio de 2011 o artigo 282 do Código de Processo Penal ganhou nova roupagem além da prisão e da liberdade provisória tratada no referido artigo temos agora as “medidas cautelares”. Essas medidas são regidas por dois princípios legais: a necessidade e a adequação (grifo nosso).
Cumpre informar, que as medidas cautelares são necessárias para aplicação da lei penal em investigação ou instrução criminal, bem como nos casos expressos em lei ou para evitar que o indivíduo investigado ou processado venha fugir ou venha a ameaçar testemunhas entre outras práticas penais. Quanto à adequação a medida deve ser proporcional a gravidade do crime, às circunstancias do fato e as condições pessoais do indiciado ou acusado.
A medida cautelar deve ser aplicada isolada ou cumulativamente preenchida os pressupostos da necessidade e da adequação.
O juiz poderá substituir as medidas cautelares por outra, bem como cumular outra medida ou, em último caso, decretar a prisão preventiva. Somente o juiz poderá decretar as medidas cautelares e poderá fazê-la de oficio, durante o processo a requerimento das partes ou durante a fase pré-processual (investigação criminal).
É bom consignar que segundo a Lei em comento não poderá haver representação por parte da autoridade policial, bem como quando concedida a prisão por medida cautelar deve a autoridade competente observar o principio do contraditório.
Dada a fungibilidade das medidas cautelares o juiz poderá substituir a medida cautelar por outra, cumular outra medida ou em último caso decretar a prisão preventiva.
É de extrema relevância o princípio rebus sic stantibus na decretação da medida cautelar no qual a teoria da imprevisão (rebus) constitui uma exceção, da qual a regra está a merecer mais observação do juiz quando os motivos que o levaram a decretar a medida desaparecerem.
Outra inovação trazida pela nova lei está expressa no § 1º do art. 289 “havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da prisão, bem como o valor da fiança a ser arbitrada”.
Luis Flavio Gomes, comentando tal dispositivo, bastante ácido, bradava “a expressão “telegrama” foi substituída por ‘qualquer meio de comunicação’. Uma adaptação necessária da lei à realidade social. A comunicação, por exemplo, pode ser feita por e-mail”.
Em relação a prisão em flagrante o legislador trouxe a baila a conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva (grifo nosso).
Tanto é verdade que antes da elaboração da nova lei a prisão em flagrante persistia até o termino do processo. Hoje com o advento da lei em comento o juiz poderá convertê-la em preventiva.
A Prisão preventiva tipificado no artigo 313 será decretada nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos, bem como se o crime envolver violência domestica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência (grifo nosso), para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.
Observa-se que o legislador preocupou-se com os crimes cometidos contra criança, adolescentes, idosos, enfermos e pessoas deficientes, além da admissão da prisão preventiva quando ocorrer dúvida sobre a identidade civil do individuo ou quando este não oferecer elementos suficientes para o esclarecimento de sua identidade física.
De outra banda, a lei em comento traz no artigo 317 a “prisão domiciliar” em substituição da prisão preventiva para indiciados ou acusados com idade superior a 80 anos, com doença grave debilitante, quando o indivíduo encarcerado for indispensável para menor de 6 (seis) anos ou com deficiência e por último quando for gestante a partir do 7º mês ou a gravidez for de alto risco.
Não se há de negar ter sido essa lei um “paradoxo” para os operadores do direito, entretanto, é mais uma que entra no ordenamento jurídico pátrio “cheia de esperança” em coibir e tentar – talvez – dar uma resposta a sociedade que tanto clama por Segurança e Justiça. Utópico.
Entendeu o legislador abrir um capítulo para tratar de outras medidas cautelares e assim o fez: “art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão”. Esse artigo traz 9 (nove) incisos dispondo acerca das medidas cautelares: comparecimento em juízo, proibição a determinados lugares, proibição de manter contato com pessoa da qual o indiciado deve manter distancia, não ausentar-se da comarca, recolhimento domiciliar no período noturno, suspensão do exercício funcional, internação provisória, pagamento de fiança nas infrações admitidas e monitoração eletrônica.
A monitoração eletrônica já é bastante usada nos “países alienígenas” e o Brasil como um país em desenvolvimento social e tecnológico aderiu a nova medida, ou seja, monitorar eletrônica o acusado durante o processo.
É de se ressaltar, com olhos bem abertos que o legislador atribuiu a competência ao Delegado de Polícia para arbitrar fiança nas infrações penais com pena máxima superior a 4 (quatro) anos.
Sem entrarmos no mérito antes o delegado de polícia só podia arbitrar fiança nas infrações punidas com detenção ou prisão simples.
No dispositivo que trata da fixação do valor da fiança (art. 325, CPP) o legislador considerou em aumentar o valor previsto da fiança em comparação ao valor já previsto na lei atual vigente.
O artigo 335 que trata da recusa ou do retardamento da concessão da fiança pela autoridade policial, acrescenta que a pessoa ou o seu procurador poderá peticionar em juízo e que o juiz decidirá no prazo de 48 horas.
Outra novidade trazida pela nova lei está elencada no artigo 439 no qual foi retirada a possibilidade de prisão especial do jurado.
Por fim com fulcro no artigo 289-A o legislador institui o Sistema de “Banco de Dados nacional”, no Conselho Nacional de Justiça, cuja finalidade é a disponibilização de todos os mandados de prisão de todo o país, sendo que qualquer policial poderá decretar essa prisão (grifo nosso).
Comentando alhures, e aqui novamente para maior clareza, as inovações dadas pela redação da Lei 12.403/2011, estará vigente e com total eficácia a partir do dia 4 de junho de 2011.
Ainda que considerada mais avançada, a lei sofre toda sorte de críticas, entretanto o propósito desse artigo não é criticar, mas apenas informar.
 Em face do dito, somos levados a inferir o fechamento do nosso discurso com as palavras de Foucault “Encontrar para um crime o castigo que lhe convém é encontrar a desvantagem cuja idéia seja tal que torna definitivamente sem atração a ideia de um delito”.
 
1 BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 1997.p.10
2 MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. 2007.p.22
3 O discurso de Luis Flávio Gomes foi proferido em aula inaugural acerca de comentários a nova lei no instituto LFG de ensino.
*Maria Ozélia Andrade Reges, advogada, professora de Direito Constitucional, Direito Internacional Público, Direito Processual Penal, graduada em Letras: Português/Espanhol e Mestranda em Letras: Linguagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre.
E-mail: ozeliareges@hotmail.com
**Adolfo Celso Oliveira Reges, Delegado de Polícia Civil, professor de Direito Constitucional, Penal e Processo Penal, pós-graduado no Curso de Formação Superior de Polícia Civil pela Academia de Polícia do Rio Grande do Norte e pós-graduado em Segurança Pública pela Universidade Federal do Acre.
E-mail: Adolfo.reges@ac.gov.br

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Apresentação PIBIC 2012

BOLSISTAS PIBIC DO GRUPO DE CRÍTICA FEMINISTA E ESTUDOS DE GÊNERO  DA UFAC

Comecei a trabalhar como pesquisadora ao terminar o mestrado em Letras, na UNICAMP, em 1997. Tive várias bolsistas. Mas tive que me afastar em 2001, para realizar o curso de doutorado. em Salvador, na UFBA, retornando somente em abril de 2005.  Débora Lemos, uma das minhas primeiras bolsistas, nos idos de 1998, trabalhava com pesquisa em jornais, análise dos editoriais, nos tempos em que eu colaborava como orientadora no Grupo de Pesquisa Amazônia: Vários Olhares...
 Débora Lemos, na Churrascaria Boi Dourado, em Curitiba/PR, 2012. Formada em Letras/Espanhol.
O grupo de Crítica Feminista e Estudos de Gênero da UFAC, pertencente ao Centro de Educação, Letras e Artes, foi criado por mim, no retorno do doutorado, ainda no tempo do extinto Departamento de Letras, no dia 16 de maio de 2006. Aprovado na assembleia dos professores e certificado no CNPQ, o novo nome do Grupo é GP de Estudos de Gênero, Raça e Geracionais, quem quiser conhecer, basta visitar o link abaixo:
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0622802CLT2ENV
Contava o grupo somente com duas professoras, eu, Margarete Lopes e Marília Pimental, ambas da área de literatura, e ainda 4 bolsistas: Denízia Cunha e Ozélia Reges, com bolsas do CNPQ e uma bolsista voluntária Roberta Lima, além de Simone Queiroz, bolsista da professora Marília.

Nosso projeto institucional se intitulava "Articulando Estudos de Gêneno e Geração com Literatura e Linguagem" e dele foram gerados e realizados vários projetos, centrados nos Estudos de Gênero e sobre a Mulher no Acre. Ozélia Reges realizou 3 projetos: um sobre "Autoria Feminina em Brasiléia"; outro de "Autoria Feminina na Revista Outras Palavras" e "As crônicas de Florentina Esteves no Jornal Página 20". Denízia pesquisou sobre "A poesia de Francis Mary no suplemento Literário Contexto Cultural" e "Autoria Feminina na Revista Artiação".
              Denizia Cunha foi bolsista PIBIC de 2005 a 2007, agora vive a vida de mamãe em tempo integral, Graduada em Letras/Espanhol.

      Ozelia Reges, em Lima/Peru, agosto de 2012. Advogada, formada também em Letras/Espanhol, mestranda no Curso de Metrado em Letras - Linguagem e Identidade/UFAC.

Erica Mota, era aluna de Enfermagem, fez comigo Português Instrumental e se apaixounou pela pesquisa, foi minha bolsista por quase três anos, trabalhou temas como a Vilência contra a Mulher em Rio Branco, Romances de autoria feminina sobre Alzheimer e A dor das cuidadoras de Alzheimer. Também foi orientada por mim em seu TCC, tb sobre a Doença de Alzheimer.
 
                             Banner da Erica Mota, PIBIC 2009.
Roberta Lima pesquisou sobre Mulheres líderes de comunidades eclesiais de Base; A Figura de mãe, fadas e bruxas na literatura infantil contemporânea; Figura femininas da Mitologia da Amazônia e Identidade de Gênero em histórias infantis... Foi a bolsista que mais tempo ficou comigo, por 04 anos:
 Roberta Lima e Profª Margarete na sala de leitura da Biblioteca. PIBIC 2011.


          Roberta Lima e o examinador do seu trabalho, PIBIC 2009.
De 2006 para cá, muitos alunos têm feito parceira comigo como meus bolsistas e também fizemos várias publicações em CDRoom, a partir das Jornadas de Estudos de Gênero e Literatura: Erica Mota, Fernando Borges, Leonides Farias, Henrique Nunes, Miriam, Dorotea Vale, Isis Ione da Costa Veras, Mirla Cristina, Diulianne Sobralino Rebouças, Rebeca Rocha e a nova aquisição de 2012, Ivaneide Dantas.

No dia 16 de outubro de 2012, as apresentações das bolsitas foram um sucesso. Diulianne falou sobre os relatos amorosos contados por telefone ao Programa de Rádio Toque e Retoque, da Eliane Sinhasique. FEz apresentação oral e banner. Parabéns.

                                       Diulianne Rebouças

Dorotea Vale foi prestigiar minha posse na Academia Acreana de Letras, em 28 de abril de 2011 e se apaixonou pela pesquisa. Ela foi logo escrevendo um artigo sobre mim e a AAL. Então, eu a convidei para ser minha bolsista de PIBIC, no interstício de 2011/2012. Ela começou entusiasmada a pesquisa da história de vida, trajetórias e ações das mulheres da Academia Acreana de Letras, mulheres pedagogas, professoras, de Letras, de História, da Matemática e uma advogada. Uma delas era eu, cuja história ela buscou antes das outras, mas infelizmente um problema de saúde não lhe permitiu ficar na pesquisa até o fim e foi substituída por outra menina.
               Profª Margarete e Dorotea, Natal de 2011.


Rebeca Rocha continou o trabalho de pesquisa de Dorotea Vale,  terminando o levantamento e resgate da história das imortais da AAL.

Profª Margarete e Rebeca Rocha no Hall da Bilioteca - UFAC/PIBIC 2012. 

Isis Ione da Costa Veras trabalhou ano passado (2011) com o Mito das Icamiabas, estudando o livro de Regina Melo "As Ykamiabas, filhas da lua, mulheres da terra" (Manaus, 2004) e neste ano de 2012 arrasou pesquisando a Juventide Blogueira e a influência das histórias de vampiro nas mocinhas do Acre, livros como os da Saga Crepúsculo e Diários do Vampiro.

   Profª Dr Margarete Lopes e Isis Ione no Bloco Geraldo Mesquita da UFAC, no Curso de Espanhol, em aula, 2010.
 
Mirla Cristian trabalhou com a trajetória e ações das mulheres religiosas ou não, na História da Educação do Acre (2011) e vai continuar reconstruindo a História do Curso de Pedagogia pela atuação das mulheres.
           Mirla Cristian - Hall da Bibloteca da UFAC - PIBIC 2012

Ainda tem muita coisa para contar, não falei ainda dos bolsistas rapazes da Medicina, que me deram muita alegria e trabaralham com muita competência Leonides Faria e Fernando Borges, mas como já falei muito, vou deixar pra continuar no próximo post, ok? Acompanhem... 
 Rio Branco, 18 de outubro de 2012.