Recebi este texto enviado por Almerinda Cunha, em 07 de dezembro de 2012 e o publico no Blog.
ALMERINDA DE SOUZA CUNHA OLIVEIRA
“Almerinda
escapou de morrer no dia “D”, o famoso dia onde a frente do Palácio Rio Branco
virou praça de guerra. Alguém morreu no lugar dela pela semelhança física e
estar vestida igual a ela. Tudo começou com uma pacífica manifestação dos
estudantes contra o abusivo aumento das passagens de ônibus. Maria José,
presidente dos Bancários e Almerinda, da Educação, foram socorrer e apoiar a
luta estudantil. A força policial reprimiu com violência o movimento, tomando o
carro de som, puxando armas, chutando e espancando com cassetetes as pessoas.
Os deputados vieram socorrer o movimento, mas também um teve que sacar da arma
para se defender. A população ouvindo pela rádio veio pra praça e aí foi o pior
confronto. Povo de um lado com pedras na mão e PM do outro com escudo e cassetetes,
alguns com fuzil. A polícia civil ficou do lado do movimento. Vítimas caiam no
chão. Foi desespero... Chutaram tanto uma mulher pensando que era a
Almerinda. Quando a vítima espancada foi procurada no Pronto Socorro pelo
Deputado Edmundo Pinto e Almerinda a pessoa tinha sumido. Dois anos depois,
dando uma palestra em Plácido de Castro, um policial, que também era professor,
informou que a moça tinha morrido e deram sumiço no corpo.”
INSTITUIÇÕES E PESSOAS QUE INDICARAM PARA O PRÊMIO:
1.
CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES – CUT
CNPJ: 60.563.731/003788
Endereço: Rua Alexandre Farhat, 112,
Bairro Bosque – Rio Branco/AC
CEP.: 69.909-410
Telefone: 3223-5760
2.
REDE ACREANA DE MULHERES E HOMENS - RAMH
CNPJ: 63.603.658/0001-08
Endereço: Travessa Primavera, 084
Baixada da Colina – CEP 69907-290
Rio Branco/AC
Telefone: 3224-8607
3.
LÚCIA MARIA RIBEIRO DE LIMA – CONSELHEIRA/CDHAC
CPF: 216.842.942-15
Endereço: Rua Luiz Z da Silva/Conjunto
Manoel Julião Bl. A3 Aptº 110
Rio Branco/AC
CEP.: 69.918-452
Telefone: 8419-4176
JUSTIFICATIVA DO PORQUE DA INDICAÇÃO:
Da
qualificação
Almerinda Cunha,
como é mais conhecida, filha de pai soldado da borracha e mãe dona de casa, tem
10 irmãos e irmãs, écasada com o professor Luiz Carlos de Oliveira e mãe de
dois filhos. Éformada em Pedagogia, com habilitação em administração escolar epós-graduada
em metodologia do ensino superior.
Nascida em Porto
Velho/Rondônia, veio para o Acre em 1971, fixando residência no bairro Seis de
Agosto, lá vivenciou todas as alagações até 1981, quando casou e mudou de
bairro. Durante o tempo que morou na Seis de Agosto, através de grupo de
jovens, participou de várias atividades, como quadrilhas, entre outras, visando
resgatar e fortalecera importância histórica do bairrocom o objetivo de
desfazer a fama de que o local era perigoso, etc.
Em 1979 Almerinda
passou a exercer o ofício de professora, lecionando para a 2ª série, na Escola
Roberto Sanches Mubarac. No exercício da sua atividade profissional foi
professora dos dois seguimentos: ensino fundamental e ensino médio, ministrando
as disciplinas de ciência e didática.
Das
CEB’s:
Almerinda
participava do Grupo de Jovens Movimento de Jovens Unidos ao Evangelho – MJUE
vinculado às Comunidades Eclesiais de Base, da Igreja Católica, que recolhia sacolão e nas noites de Natal
fazia doações para os ribeirinhos do Igarapé da Judia. Na década de 1970, o
MJUE fazia teatro nas igrejas denunciando a invasão dos fazendeiros sulistas.
Da
militância sindical
Em
1979, como professora associada à Associação dos Professores do Acre – ASPAC,
Almerinda participava das lutas encabeçadas pela entidade. Na década de 1980
assumiu a presidência da Associação, que até então enfocava suas lutas apenas
para a categoria dos professores. A partir de 1982, assumiu a liderança do movimento
sindical, transformou a ASPAC em Sinteac e passou a lutar pelo conjunto dos
trabalhadores em educação. Neste período as principais bandeiras de luta foram:
educação para todos, qualidade da educação, melhores condições de trabalho e de
salário.
No auge da luta
sindical Almerinda, juntamente com um grupo de trabalhadores, foi demitida,
pela Governadora Iolanda Lima que exigiu que o prefeito de Rio Branco, à época,
Adalberto Aragão, a demitisse também. Na oportunidade, perguntou o Prefeito: “o
que a neguinha fez: Roubou? Matou? Não? Então não demito.”
No decorrer da
militância sindical, Almerinda, que foi Secretária Geral da Central Única dos
Trabalhadores - CUTrecebeu ameaças de morte e andou escoltada.
Cumpre destacar que
por conta da luta sindical, em parceria com Valdomiro, Sônia, Vilma foi criado
o primeiro plano de cargos e salários, à época os professores ganhavam menos
que as merendeiras. Tinha certificado falsificado, visto que os professores
eram indicados pelas autoridades, uma vez que não havia concurso público. Em
1987, o plano foi aprovado, os professores e professoras comemoram com uma caminhada
debaixo de chuva, gritando palavras de ordem.
Outra conquista
importante foi a luta por gestão democrática no estado para eleição de
diretores de escola e inspetores de ensino. Por conta da mobilização sindicalo Acre
foi um dos primeiros estados a adotar esta prática. O Projeto de Lei
apresentado pelo então Deputado Estadual Manoel Pacífico que garantia eleição
direta foi votado e aprovado em 1992, mas só foi regulamentado em 1997. Por
esta razão a lei foi implementada na marra. Buscando realizar eleições em
Feijó, ela foi expulsa do município, sendo socorrida pela Irmã Marita. Em Sena
Madureira, visando realizar eleições, ouviu que quem mandava lá era o Prefeito
Normando Sales.
Almerinda liderou
uma luta histórica pela isonomia salarial dos trabalhadores em Educação, que
durou 09 (nove) anos. Ressalte-se que os Trabalhadores da Educação recebiam
menos que os demais funcionários do Estado com a mesma formação e o mesmo
trabalho.
Almerinda abraçou a
luta dos funcionários de escola por direito à faculdade, a exemplo dos
professores. O Acre foi o primeiro estado do Brasil a conquistar nível superior
para esta categoria.
A luta sindical foi
marcada pelo desejo de liberdades democráticas, qualidade da educação, passeata
contra a carestia, e solidariedade aos trabalhadores. Momento em que o então
governador Flaviano Melo demitiu mil trabalhadores,de uma vez só vez, Almerinda
estava à frente das manifestações: acenderam velas, rezaram, fizeram vigílias
em frente ao Palácio Rio Branco, etc.
Almerinda Cunha,
como militante urbana e cutista, apoiou também a luta dos trabalhadores rurais,
participando do Grito da Terra Brasil, colaborando nas mobilizações, fazendo
comida para os trabalhadores, durante os acampamentos e comandando a animação,
nos atos e assembléias.
Atualmente, apóia a
luta e organização das empregadas domésticas na jornada pela ampliação dos
direitos trabalhistas.
Das
questões de gênero:
Almerinda participou
ativamente do Movimento de Mulheres do Acre – MMA, juntamente com Teotista,
Sônia Chaves, Maria Lúcia Régis, Ália Ganun, entre outras mulheres corajosas.
Hoje ela está filiada à Rede Acreana de Mulheres e Homens, participando assiduamente
de todas as mobilizações relacionadas às reivindicações das mulheres. Além de
ter ótimas relações seja com a equipe da Coordenadoria Municipal da Mulher de
Rio Branco, seja da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres.
A luta pelo fim da
violência contra a mulher veio junto com a luta sindical, ocasião em que o
Capitão Diomedes matou a ex mulher, que era filha da D. Gislaine Salvatierra,
representante do núcleo da Secretaria de Estado de Educação em Brasiléia, o
capitão ficou impune, ao mesmo tempo outras mulheres foram assassinadas, como a
Lucibete, no Banacre, Raimunda Balbino, entre outras, o movimento sindical
organizou várias passeatas pedindo o fim da impunidade. Nesta época estava em
vigor o fundamento que tentava justificar o homicídio das mulheres: “matou em
legítima defesa da honra.”
Em seu primeiro
casamento Almerinda foi vítima de violência doméstica e psicológica. Às vezes o
marido amolando a faca dizia: “esta faca não é pra mim, não.” Sofreu maus
tratos, ameaça de morte, etc. Os motoristas do Sinteac não queriam dirigir o
carro com medo do ex-marido dela que fazia gestos de disparo de revólver.
Muitas vezes, durante as manifestações, ela estava em cima do caminhão/palanque
discursando e o marido fazendo gestos ameaçadores em baixo. Por várias vezes, as
colegas dirigentes do Sinteac a protegiam com o corpo, fazendo cordão de
isolamento, após as manifestações sindicais e políticas. Foi necessário colocar
uma grade de ferro na sede do Sinteac para protegê-la e as demais dirigentes.
Almerinda é
militante da causa de combate à violência contra a mulher e construindo novas
relações de gênero na educação. Por isso faz palestras e seminários e organizou,
juntamente com outras, a apostila: “Trabalhando gênero na escola”, que foi
reproduzida e encaminhada para as escolas da rede de ensino.
Realizou através do
FPEER/AC e SEPMULHER 02 (dois) seminários de gênero e raça orientando as
escolas nessas temáticas.
Da
promoção da igualdade racial
Almerinda Cunha se
aproximou do movimento de promoção da igualdade racial e combate ao racismo,
iniciadono estado do Acre em 2003, sendo ampliado em 2005, quando assumiu a
coordenação do Coletivo de Combate ao Racismo do Sinteac e da CUT. Em 2008 foi
criado o Fórum Permanente de Educação Étnico Racial do Estado do Acre, com atuação
em vários municípios do estado. Várias atividades foram realizadas tais como:
Seminários, Palestras, Semana da Consciência Negra, (festa da Kizomba,
mobilização das escolas, produção de material).
A partir da criação
do Fórum Permanente de Educação Étnico-Racial - FPEER, em 16/06/2008, foram
realizados seminários, cursos, formação, oficinas pedagógicas: bonecas étnicas
para orientar a educação; cabelo afro para elevar a autoestima da população
negra; sensibilização através da música afro brasileira, jogos matemáticos para
ajudar as crianças na aprendizagem; capoeira;literatura infantil, contos
africanos.
Produziu,
em parceria com outras pessoas, material didático: “Quinzena da Consciência
Negra”, essa apostila orienta como trabalhar o preconceito racial,
desconstruindo o racismo.
Cumpre
destacar a realização de 04 encontros da mulher negra e 02 encontros de mulher
indígena para refletir sobre a condição das mulheres do ponto de vista da raça
e etnia.
Destaque-se,
ainda, a luta no plano estadual, para a criação do Comitê Técnico de Saúde da
População Negra a fim de chamar a atenção das autoridades e da população para
as doenças com maior incidência sobre a população negra, neste sentido vale
ressaltar os diálogos travados com a Secretaria de Estado da Saúde para a
realização do exame da anemia falciforme.
Convém
acrescentar que a participação de Almerinda foi fundamental para a criação do
Comitê Gestor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Rio
Branco, criado, em 2011, para trabalhar as questões de promoção da igualdade
racial e combate à discriminação.
Dos
Conselhos de Direito:
Integrou o Conselho
Estadual de Educação por 04 anos e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.
Recentemente
Almerinda Cunha foi eleita a primeira presidenta do Conselho Municipal de
Promoção da Igualdade Racial de Rio Branco, criado em 2012.
Da
participação política
Almerinda
Cunha foi filiada ao PMDB e posteriormente ao PT, ocupando hoje o cargo de
Secretária Estadual de Combate ao Racismo. Foi candidata a Deputada Estadual em
1989 e 1992 e não foi eleita,talvez porque disse que se fosse eleita botaria os
assassinos de mulheres na cadeia.
Por
fim, Almerinda Cunha é a encarnação da música Maria Maria, de Milton
Nascimento:
Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
Conceder a Almerinda Cunha o Prêmio
Estadual de Direitos Humanos 2012 é reconhecer que a luta dela, que também é de
todos nós, vale a pena.
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