domingo, 9 de dezembro de 2012

Almerinda Cunha recebe Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2012


Recebi este texto enviado por Almerinda Cunha, em 07 de dezembro de 2012 e o publico no Blog.

ALMERINDA DE SOUZA CUNHA OLIVEIRA





 “Almerinda escapou de morrer no dia “D”, o famoso dia onde a frente do Palácio Rio Branco virou praça de guerra. Alguém morreu no lugar dela pela semelhança física e estar vestida igual a ela. Tudo começou com uma pacífica manifestação dos estudantes contra o abusivo aumento das passagens de ônibus. Maria José, presidente dos Bancários e Almerinda, da Educação, foram socorrer e apoiar a luta estudantil. A força policial reprimiu com violência o movimento, tomando o carro de som, puxando armas, chutando e espancando com cassetetes as pessoas. Os deputados vieram socorrer o movimento, mas também um teve que sacar da arma para se defender. A população ouvindo pela rádio veio pra praça e aí foi o pior confronto. Povo de um lado com pedras na mão e PM do outro com escudo e cassetetes, alguns com fuzil. A polícia civil ficou do lado do movimento. Vítimas caiam no chão. Foi desespero... Chutaram tanto uma mulher pensando que era a Almerinda. Quando a vítima espancada foi procurada no Pronto Socorro pelo Deputado Edmundo Pinto e Almerinda a pessoa tinha sumido. Dois anos depois, dando uma palestra em Plácido de Castro, um policial, que também era professor, informou que a moça tinha morrido e deram sumiço no corpo.”


INSTITUIÇÕES E PESSOAS QUE INDICARAM PARA O PRÊMIO:

1. CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES – CUT
CNPJ: 60.563.731/003788
Endereço: Rua Alexandre Farhat, 112, Bairro Bosque – Rio Branco/AC
CEP.: 69.909-410
Telefone: 3223-5760


2. REDE ACREANA DE MULHERES E HOMENS - RAMH
CNPJ: 63.603.658/0001-08
Endereço: Travessa Primavera, 084 Baixada da Colina – CEP 69907-290
Rio Branco/AC
Telefone: 3224-8607
Endereço eletrônico: redeac@hotmail.com


3. LÚCIA MARIA RIBEIRO DE LIMA – CONSELHEIRA/CDHAC
CPF: 216.842.942-15
Endereço: Rua Luiz Z da Silva/Conjunto Manoel Julião Bl. A3 Aptº 110
Rio Branco/AC
CEP.: 69.918-452
Telefone: 8419-4176



JUSTIFICATIVA DO PORQUE DA INDICAÇÃO:

Da qualificação

Almerinda Cunha, como é mais conhecida, filha de pai soldado da borracha e mãe dona de casa, tem 10 irmãos e irmãs, écasada com o professor Luiz Carlos de Oliveira e mãe de dois filhos. Éformada em Pedagogia, com habilitação em administração escolar epós-graduada em metodologia do ensino superior.
Nascida em Porto Velho/Rondônia, veio para o Acre em 1971, fixando residência no bairro Seis de Agosto, lá vivenciou todas as alagações até 1981, quando casou e mudou de bairro. Durante o tempo que morou na Seis de Agosto, através de grupo de jovens, participou de várias atividades, como quadrilhas, entre outras, visando resgatar e fortalecera importância histórica do bairrocom o objetivo de desfazer a fama de que o local era perigoso, etc.
Em 1979 Almerinda passou a exercer o ofício de professora, lecionando para a 2ª série, na Escola Roberto Sanches Mubarac. No exercício da sua atividade profissional foi professora dos dois seguimentos: ensino fundamental e ensino médio, ministrando as disciplinas de ciência e didática.

Das CEB’s:

Almerinda participava do Grupo de Jovens Movimento de Jovens Unidos ao Evangelho – MJUE vinculado às Comunidades Eclesiais de Base, da Igreja Católica,  que recolhia sacolão e nas noites de Natal fazia doações para os ribeirinhos do Igarapé da Judia. Na década de 1970, o MJUE fazia teatro nas igrejas denunciando a invasão dos fazendeiros sulistas.


 Da militância sindical

Em 1979, como professora associada à Associação dos Professores do Acre – ASPAC, Almerinda participava das lutas encabeçadas pela entidade. Na década de 1980 assumiu a presidência da Associação, que até então enfocava suas lutas apenas para a categoria dos professores. A partir de 1982, assumiu a liderança do movimento sindical, transformou a ASPAC em Sinteac e passou a lutar pelo conjunto dos trabalhadores em educação. Neste período as principais bandeiras de luta foram: educação para todos, qualidade da educação, melhores condições de trabalho e de salário.
No auge da luta sindical Almerinda, juntamente com um grupo de trabalhadores, foi demitida, pela Governadora Iolanda Lima que exigiu que o prefeito de Rio Branco, à época, Adalberto Aragão, a demitisse também. Na oportunidade, perguntou o Prefeito: “o que a neguinha fez: Roubou? Matou? Não? Então não demito.”
No decorrer da militância sindical, Almerinda, que foi Secretária Geral da Central Única dos Trabalhadores - CUTrecebeu ameaças de morte e andou escoltada.
Cumpre destacar que por conta da luta sindical, em parceria com Valdomiro, Sônia, Vilma foi criado o primeiro plano de cargos e salários, à época os professores ganhavam menos que as merendeiras. Tinha certificado falsificado, visto que os professores eram indicados pelas autoridades, uma vez que não havia concurso público. Em 1987, o plano foi aprovado, os professores e professoras comemoram com uma caminhada debaixo de chuva, gritando palavras de ordem.
Outra conquista importante foi a luta por gestão democrática no estado para eleição de diretores de escola e inspetores de ensino. Por conta da mobilização sindicalo Acre foi um dos primeiros estados a adotar esta prática. O Projeto de Lei apresentado pelo então Deputado Estadual Manoel Pacífico que garantia eleição direta foi votado e aprovado em 1992, mas só foi regulamentado em 1997. Por esta razão a lei foi implementada na marra. Buscando realizar eleições em Feijó, ela foi expulsa do município, sendo socorrida pela Irmã Marita. Em Sena Madureira, visando realizar eleições, ouviu que quem mandava lá era o Prefeito Normando Sales.
Almerinda liderou uma luta histórica pela isonomia salarial dos trabalhadores em Educação, que durou 09 (nove) anos. Ressalte-se que os Trabalhadores da Educação recebiam menos que os demais funcionários do Estado com a mesma formação e o mesmo trabalho.
Almerinda abraçou a luta dos funcionários de escola por direito à faculdade, a exemplo dos professores. O Acre foi o primeiro estado do Brasil a conquistar nível superior para esta categoria.
A luta sindical foi marcada pelo desejo de liberdades democráticas, qualidade da educação, passeata contra a carestia, e solidariedade aos trabalhadores. Momento em que o então governador Flaviano Melo demitiu mil trabalhadores,de uma vez só vez, Almerinda estava à frente das manifestações: acenderam velas, rezaram, fizeram vigílias em frente ao Palácio Rio Branco, etc.
Almerinda Cunha, como militante urbana e cutista, apoiou também a luta dos trabalhadores rurais, participando do Grito da Terra Brasil, colaborando nas mobilizações, fazendo comida para os trabalhadores, durante os acampamentos e comandando a animação, nos atos e assembléias.
Atualmente, apóia a luta e organização das empregadas domésticas na jornada pela ampliação dos direitos trabalhistas.

Das questões de gênero:

Almerinda participou ativamente do Movimento de Mulheres do Acre – MMA, juntamente com Teotista, Sônia Chaves, Maria Lúcia Régis, Ália Ganun, entre outras mulheres corajosas. Hoje ela está filiada à Rede Acreana de Mulheres e Homens, participando assiduamente de todas as mobilizações relacionadas às reivindicações das mulheres. Além de ter ótimas relações seja com a equipe da Coordenadoria Municipal da Mulher de Rio Branco, seja da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres.
A luta pelo fim da violência contra a mulher veio junto com a luta sindical, ocasião em que o Capitão Diomedes matou a ex mulher, que era filha da D. Gislaine Salvatierra, representante do núcleo da Secretaria de Estado de Educação em Brasiléia, o capitão ficou impune, ao mesmo tempo outras mulheres foram assassinadas, como a Lucibete, no Banacre, Raimunda Balbino, entre outras, o movimento sindical organizou várias passeatas pedindo o fim da impunidade. Nesta época estava em vigor o fundamento que tentava justificar o homicídio das mulheres: “matou em legítima defesa da honra.”
Em seu primeiro casamento Almerinda foi vítima de violência doméstica e psicológica. Às vezes o marido amolando a faca dizia: “esta faca não é pra mim, não.” Sofreu maus tratos, ameaça de morte, etc. Os motoristas do Sinteac não queriam dirigir o carro com medo do ex-marido dela que fazia gestos de disparo de revólver. Muitas vezes, durante as manifestações, ela estava em cima do caminhão/palanque discursando e o marido fazendo gestos ameaçadores em baixo. Por várias vezes, as colegas dirigentes do Sinteac a protegiam com o corpo, fazendo cordão de isolamento, após as manifestações sindicais e políticas. Foi necessário colocar uma grade de ferro na sede do Sinteac para protegê-la e as demais dirigentes.
Almerinda é militante da causa de combate à violência contra a mulher e construindo novas relações de gênero na educação. Por isso faz palestras e seminários e organizou, juntamente com outras, a apostila: “Trabalhando gênero na escola”, que foi reproduzida e encaminhada para as escolas da rede de ensino.
Realizou através do FPEER/AC e SEPMULHER 02 (dois) seminários de gênero e raça orientando as escolas nessas temáticas.

Da promoção da igualdade racial

Almerinda Cunha se aproximou do movimento de promoção da igualdade racial e combate ao racismo, iniciadono estado do Acre em 2003, sendo ampliado em 2005, quando assumiu a coordenação do Coletivo de Combate ao Racismo do Sinteac e da CUT. Em 2008 foi criado o Fórum Permanente de Educação Étnico Racial do Estado do Acre, com atuação em vários municípios do estado. Várias atividades foram realizadas tais como: Seminários, Palestras, Semana da Consciência Negra, (festa da Kizomba, mobilização das escolas, produção de material).
A partir da criação do Fórum Permanente de Educação Étnico-Racial - FPEER, em 16/06/2008, foram realizados seminários, cursos, formação, oficinas pedagógicas: bonecas étnicas para orientar a educação; cabelo afro para elevar a autoestima da população negra; sensibilização através da música afro brasileira, jogos matemáticos para ajudar as crianças na aprendizagem; capoeira;literatura infantil, contos africanos.
Produziu, em parceria com outras pessoas, material didático: “Quinzena da Consciência Negra”, essa apostila orienta como trabalhar o preconceito racial, desconstruindo o racismo.
Cumpre destacar a realização de 04 encontros da mulher negra e 02 encontros de mulher indígena para refletir sobre a condição das mulheres do ponto de vista da raça e etnia.
Destaque-se, ainda, a luta no plano estadual, para a criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra a fim de chamar a atenção das autoridades e da população para as doenças com maior incidência sobre a população negra, neste sentido vale ressaltar os diálogos travados com a Secretaria de Estado da Saúde para a realização do exame da anemia falciforme.
Convém acrescentar que a participação de Almerinda foi fundamental para a criação do Comitê Gestor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Rio Branco, criado, em 2011, para trabalhar as questões de promoção da igualdade racial e combate à discriminação.

Dos Conselhos de Direito:

Integrou o Conselho Estadual de Educação por 04 anos e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.
Recentemente Almerinda Cunha foi eleita a primeira presidenta do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Rio Branco, criado em 2012.

Da participação política

Almerinda Cunha foi filiada ao PMDB e posteriormente ao PT, ocupando hoje o cargo de Secretária Estadual de Combate ao Racismo. Foi candidata a Deputada Estadual em 1989 e 1992 e não foi eleita,talvez porque disse que se fosse eleita botaria os assassinos de mulheres na cadeia.
Por fim, Almerinda Cunha é a encarnação da música Maria Maria, de Milton Nascimento:

Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
Conceder a Almerinda Cunha o Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2012 é reconhecer que a luta dela, que também é de todos nós, vale a pena.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Carta para ELIZA VIRGÍNIA enviada por várias ONGs

CARTA À PARLAMENTAR ELIZA VIRGÍNIA QUE DESCONHECE LUTAS DO MOVIMENTO FEMINISTA E A NECESSIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES 

Prezada vereadora Eliza Virgínia,

A violência é uma violação dos Direitos Humanos que afeta em todo o mundo milhares de mulheres de diferentes idades, classes sociais, regiões, grupos étnico-raciais, graus de escolaridade e religiões. D
ados nacionais indicam que o Brasil ocupa a sétima posição na incidência de homicídios de mulheres, em um ranking mundial onde estão sendo considerados 84 países. De 1980 a 2010, triplicou o número destas mortes sendo assassinadas uma média superior a 92 mil mulheres no Brasil, das quais 43,5 mil ocorreram nesta última década (WAISELFIZ, 2012).
O estado da Paraíba se encontra em 7º lugar no ranking de taxas de homicídio feminino, no qual João Pessoa assustadoramente está em 2º (WAISELFISZ, 2010). Somente neste ano, na Paraíba, foram assassinadas 122 mulheres segundo dados da Secretaria Pública e Defesa Social da Paraíba, foram 98 estupros e 62 tentativas de estupro segundo a ONG Centro da Mulher 8 de Março. Distintas pesquisas evidenciam que em mais de 70% dos casos, a violência é cometida pelo atual ou ex-companheiro/marido/namorado, e, em geral, na própria residência (AMARAL et. al., 2001; VENTURI; RECAMÁN; OLIVEIRA; 2004, FUNDAÇÃO..., 2010).
A senhora alegou na Câmara Municipal de João Pessoa, nesta quinta feira, dia 06 de dezembro de 2012, em uma discussão sobre a Leia Maria da Penha que as feministas “são mal amadas e, por isso embutem/imprimem na cabeça/consciência das mulheres a ideia de que os homens não prestam”; tal afirmação evidencia sua desinformação a respeito do feminismo, do machismo e da dinâmica da violência contra mulheres presente na sociedade contemporânea.
O Movimento Feminista, desde a década de 1970, tem sido protagonista na publicização da violência contra as mulheres no Brasil, através de debates e denúncias de crimes considerados de cunho privado, tem pressionado governos nas esferas federal, estadual e municipal para a implantação de políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero decorrendo na criação de Secretarias e ações governamentais para mulheres. Assim como na criação de Centros de Referência da Mulher, Casas Abrigo, Delegacias de Atendimento às Mulheres. Além das ações políticas contra a violência, o Movimento Feminista brasileiro têm lutado em várias em esferas, sempre em defesa da ampliação dos direitos das mulheres e da igualdade entre os gêneros.
Feministas que atuam ou nas universidades, ou nos movimentos sociais, ou na administração pública, têm intensamente trabalhado para romper com relações de poder profundamente desiguais, historicamente construídas, que subsidiam os processos de opressão das mulheres em diferentes esferas. Os órgãos de atendimento às mulheres em situação de violência têm contribuído para a conquista da boa autoestima, da autonomia e da emancipação das mulheres, a partir de ações globais e locais com atendimentos interdisciplinares, visando preservar a vida e garantir os direitos das mulheres, respeitando suas próprias escolhas.
É um absurdo acreditar que nós feministas consideramos que os homens são inimigos das mulheres. Em nossa perspectiva não há resistência aos homens e sim a uma estrutura social patriarcal que aloca aos homens poderes para normatizar, controlar e disciplinar a conduta das mulheres, utilizando diferentes formas de humilhação e privação. Temos lutado historicamente para que mulheres tenham acesso às melhores condições de vida e de trabalho, à moradia, à educação, por uma maior participação na política e para o exercício de mandatos legislativos e executivos.
Nunca é demais salientar que graças a uma das vitórias do Movimento Feminista – o direito de mulheres votarem e serem votadas, no ano de 1932 –, a senhora ocupa um mandato na Câmara Municipal. No entanto, lamentamos ter uma mulher ocupando um espaço público que faça declarações equivocadas, fundamentalistas e lesbofóbicas que caminham na direção oposta às lutas históricas de enfrentamento a violência de gênero e aos direitos humanos das mulheres.
Finalizamos, compartilhando o pensamento da feminista negra bell hooks (2000): imaginem viver num mundo onde não haja dominação, onde mulheres e homens não são parecidos nem são sempre iguais, mas onde uma visão de reciprocidade seja o ethos que modela nossa interação. Imaginem viver num mundo onde possamos todas e todos ser quem somos, um mundo de paz e possibilidade. A revolução feminista sozinha não criará esse mundo; precisamos acabar com o racismo, elitismo de classe e imperialismo. Mas a revolução feminista possibilitará que sejamos mulheres e homens plenamente auto-realizados, capazes de criar uma comunidade amorosa, de viver juntos/as realizando nossos sonhos de liberdade e justiça, vivendo a verdade de sermos todas/os “criadas/os iguais”. Aproximem-se. Vejam como o feminismo pode tocar e mudar suas vidas e as vidas de todos/as nós. Aproximem-se e saibam em primeira mão do que trata o movimento feminista. Aproximem-se e verão: o feminismo é para todos/as, inclusive para a senhora, vereadora Eliza Virgínia.


NIPAM/UFPB – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação Sobre Mulher e Relações de Sexo e Gênero
REDOR – Rede Feminista Norte e Nordeste de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher e Relações de Gênero
NEABI/UFPB – Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiras e Indígenas
NEPIERE/UFPB – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Informação, Educação e Relações Étnico-raciais
GEINCOS/UFPB – Grupo de Estudo Integrando competência, construindo saberes, formando cientistas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre os 16 dias de ATIVISMO

UMA BREVE EXPLICAÇÃO sobre o que significam os 16 dias de ATIVISMO:




2012 - ANÚNCIO TEMA
Center for Women’s Global Leadership
Rutgers, The State University of New Jersey

http://cwgl.rutgers.edu

Da paz em casa até à paz no mundo:
Vamos Desafiar o Militarismo e Acabar com a Violência Contra as Mulheres!

A campanha dos 16 Dias de 2012 vai continuar com o tema global: da paz em casa até à paz no mundo: Vamos Desafiar o Militarismo e Acabar com a Violência Contra as Mulheres! A campanha deste ano marca o nosso terceiro ano de advocacia contra as intersecções na violência baseada no género e no militarismo. Baseado nas respostas dos indivíduos e das organizações participantes, o Centro Para a Liderança Global da Mulher (Center for Women’s Global Leadership em inglês), como coordenador global da campanha, continua a juntar participantes para desafiar o militarismo e para explorar as profundas estruturas socioeconómicas que perpetuam a violência baseada no género.

O militarismo permanece uma fonte chave para a violência contra as mulheres. Como uma ideologia que cria uma cultura de medo, o militarismo apoia o uso de violência, agressão, e de intervenções militares para resolver conflitos e para reforçar interesses econômicos e políticos. Os impactos do militarismo são profundos, com impactos materiais, institucionais, culturais, e psicológicos em todas as nossas comunidades. Privilegia formas violentas de masculinidade, e pressupõe que a violência é uma forma eficaz de resolver problemas. O militarismo frequentemente tem graves consequências na nossa sociedade como um todo, incluindo mulheres, crianças e homens. Desde a violência sexual em conflito até à proliferação de armas de brincar, o militarismo influencia a maneira como vemos as mulheres e os homens, as nossas famílias, vizinhos, vida pública e países específicos NOTA1.

Em 2011, cinco áreas de prioridade (nota2) que surgiram do tema global foram identificadas por um grupo de pessoas experientes a nível global. São: 
(i) violência política contra a mulher; 
(ii) a proliferação de pequenas armas e o seu papel na violência doméstica; 
(iii) violência sexual durante e pós-conflito; 
(iv) o papel de Representantes Estaduais (State Actors)como perpetradores da violência sexual e baseada no género; e 
(v) os papéis das mulheres, da paz, e dos movimentos de direitos humanos a desafiar as ligações entre o militarismo e a violência contra as mulheres.

Tendo em conta as respostas dos participantes da campanha de 2012, a Campanha 16 Dias deste ano vai dar destaque a três das cinco áreas de prioridade:
1. Violência perpetrada pelos Representantes Estaduais (State Actors): Os Governos e os representantes estaduais (state actors) usam a violência para cumprir objetivos políticos, empregar ideologias militares e a necessidade de “segurança estadual” para fazer passar a violência e a intimidação por medidas de “segurança”. Dentro da cultura de violência do militarismo, os indivíduos em posição de autoridade acreditam que podem cometer crimes com impunidade, o que é exemplificado pelas altas taxas de violência sexual dentro do exército, ameaças da polícia a mulheres que apresentem queixa de violência ou agressão, assédio e intimidação contínua, testes de virgindade forçados em protestantes femininas pelas autoridades, e violência contra as mulheres que vivem e trabalham perto de bases militares. Os defensores dos direitos da mulher que trabalham em assuntos relacionados com direitos econômicos  sociais e culturais, bem como os direitos civis e políticos são também alvos. A falta de responsabilidade por parte do estado e o fracasso de castigar os perpetradores da violência sexual e baseada no gênero continuam a ser um desafio exigente para acabar com o militarismo em todo o mundo.

2. Violência doméstica e o papel de pequenas armas: A violência doméstica, um assunto duradouro sobre o qual organizações de mulheres já confrontaram, continua a ser uma realidade em todos os países do mundo. Estima-se que a maior parte das mulheres em todo o mundo experienciaram violência por parte de um parceiro íntimo em alguma parte das suas vidas (nota 3). Esta violência torna-se ainda mais perigosa quando pequenas mas perigosas armas (por exemplo pistolas, facas, etc.) estão presentes na casa, pois podem ser usadas para ameaçar, magoar e/ou matar mulheres e crianças. Não só as pequenas armas facilitam a violência contra as mulheres, também perpetuam uma forma violenta de masculinidade. Independentemente do contexto (conflito ou paz), a presença de armas tem invariavelmente o mesmo efeito: mais armas significam mais perigo para as mulheres. Assim, este ano vamos continuar a examinar o comércio e a proliferação de pequenas armas e o seu papel na perpetuação da violência contra as mulheres, no geral, e da violência doméstica, em particular. Enquanto que vitórias consideráveis tenham sido feitas, nas formas de reformas legais e de serviços, muitas organizações de defesa das mulheres continuam a trabalhar neste assunto urgente.

3. Violência sexual durante e pós-conflito: Os contextos de violência sexual durante e após o conflito são usados para reforçar hierarquias políticas e baseadas no gênero  Também são usados como tática para conduzir o medo, e para humilhar e castigar mulheres, as suas famílias e as suas comunidades. Enquanto que têm havido mais atenção direcionada a este crime nos anos mais recentes, a violência sexual continua a ser uma das maiores barreiras para a segurança e reintegração das mulheres, pois os seus efeitos são fisicamente, psicologicamente e socialmente debilitantes. A instabilidade e insegurança que armaram conflitos têm tendência a agravar violência contra as mulheres e tornar as suas formas mais extremas, mais generalizadas e/ou fatais. Mesmo depois do fim de um conflito “reconhecido”, a violência sexual pode continuar a ter altas taxas em casas e comunidades quando permanece um ambiente militarizado. Muitas organizações de defesa da mulher têm realçado a separação artificial criada por condições como conflito e pós-conflito, citando que a violência militarizada continua para as mulheres apesar do fim de uma guerra formal.
A Campanha dos 16 Dias deste ano oferece uma oportunidade de refletir no que nós, como ativistas dos direitos das mulheres, podemos fazer para que os nossos governos deem conta e desafiem as estruturas que permitem que a violência baseada no gênero continue. Como sempre, a CWGL (Center for Women’s Global Leadership) encoraja os ativistas a utilizar a Campanha dos 16 Dias para se concentrarem nos assuntos que são mais relevantes nos contextos locais. A participação nesta campanha não só nos oferece a oportunidade de advogar contra, e dar conhecimento sobre, a violência baseada no gênero  como também nos permite juntar as nossas vozes às das mulheres de outros países e regiões que se recusam a ficar caladas. A violência baseada no gênero é um assunto que nos afeta a todos em múltiplos níveis. Dentro deste contexto os nossos governos devem ter a responsabilidade de responder, proteger e prevenir.

Sobre a Campanha dos 16 Dias:

Os 16 Dias de Ativismo Contra a Violência de Gênero são uma campanha global dedicada a acabar com a violência baseada no gênero  O Centro Para a Liderança Global da Mulher (CWGL, em inglês) é o coordenador global. O início da Campanha é a 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Baseada no Gênero  e termina no dia 10 de dezembro, Dia dos Direitos Humanos. Estas datas foram escolhidas para destacar que a violência baseada no gênero é uma violação dos direitos humanos. A Campanha tem sucesso por causa do ativismo de milhões de mulheres e de dez mil organizações em todo o mundo, que estão comprometidas a acabar com a violência baseada no gênero. 4

Materiais do Kit “Entrar em Ação” de 2012:

A CWGL está a desenvolver o Kit “Entrar em Ação”, que contém recursos para ajudá-lo a organizar as suas atividades da Campanha 16 Dias. O Kit vai estar disponível em várias línguas a partir de agosto. Os participantes podem visitar o nosso website (http://16dayscwgl.rutgers.edu) para descarregar os materiais do Kit “Entrar em Ação” ou para solicitar uma cópia impressa. Não se esqueça de adicionar os seus eventos ao nosso Calendário da Campanha online! Obrigado!

- Como ficar ligado e aprender mais 
O Site Oficial da Campanha dos 16 Dias:
 http://16dayscwgl.rutgers.edu

- Publique e procure eventos no Calendário da Campanha online: 
http://16dayscwgl.rutgers.edu/campaign-calendar 

- Junte-se à lista dos 16 Dias:
 https://email.rutgers.edu/mailman/listinfo/16days_discussion Facebook: http://www.facebook.com/16DaysCampaign 
Flickr: http://www.flickr.com/photos/16dayscampaign 
Twitter: https://twitter.com/#!/CWGL_Rutgers 16 Days 
Twitter hashtag: #16days
 YouTube: http://www.youtube.com/user/CWGLRutgers 

Envie-nos um email a qualquer hora! 
16days@cwgl.rutgers.edu

Traduzido por/Translated by Inês Tavares

NOTAS:
1 Centro Para A Liderança Global das Mulheres. 2011. “ Relatório das Interseções da Violência contra as Mulheres e do Militarismo” http://www.cwgl.rutgers.edu/resources/publications/gender-based-violence/388-intersections-of-violence-against-women-and-militarism-meeting-report-2011.

2 Centro Para A Liderança Global das Mulheres 2012. “16 Dias de Ativismo Contra A Violência do Género: Sumário Analítico.” http://16dayscwgl.rutgers.edu/previous-years/2011/16-days-analytical-summary-2011.

3 Organização Mundial da Saúde. 2005. “Estudo Internacional da OMS sobre a Saúde das Mulheres e da Violência Doméstica contra as mulheres: Resultados Iniciais do Predomínio, Resultados de Saúde e Respostas das Mulheres” http://www.who.int/gender/violence/who_multicountry_study.

4Centro Para A Liderança Global das Mulheres. 2012. “16 Dias de Ativismo Contra A Violência do Género: Sumário Analítico.” http://16dayscwgl.rutgers.edu/previous-years/2011/16-days-analytical-summary-2011.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SEPMulheres oferece apoio a mulher agredida dentro de supermercado


Vi isto hoje no Acre Notícias e coloco no Blog, porque é de vital importância estarmos alertas na luta de combate à violência contra a MULHER.

SEPMulheres oferece apoio a mulher agredida dentro de supermercado

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Estiveram no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) a coordenadora de Direitos Humanos da SEPMulheres, Joelda Pais, e a assessora jurídica Ariadne Santos, a pedido da secretária de Estado de Políticas para as Mulheres, Concita Maia, para oferecer todo o apoio necessário a Aline Tainá.
Aline, 22, levou oito facadas do ex-marido Francisco Jones Souza Araújo, com quem teve dois filhos, enquanto trabalhava em um dos caixas de um supermercado de Rio Branco, no último sábado. Segundo a mãe de Aline, Maria da Conceição, a filha estava separada fazia sete meses de Jones. “Quando ela arrumou um emprego, a situação ficou ainda pior. Ele seguia, perturbava, mesmo. Ela foi à Delegacia da Mulher fazer a queixa e recebeu a medida protetiva”, disse
“Infelizmente, nós não temos o controle da ação do ser humano. Por isso é importante que a mulher, depois de ter feito a denúncia, vá para a casa abrigo até que tenha certeza de que nada possa ocorrer”, explicou a coordenadora de Direitos Humanos da SEPMulheres, Joelda Pais.
“Ele não queria que ela trabalhasse de forma nenhuma. Agredia-a física e verbalmente. Depois que ela arranjou esse emprego, aí, sim, ele não largou mais do pé dela e aconteceu o que aconteceu”, disse Maria da Conceição.
Aline está internada e passou por uma cirurgia no intestino. Ela ainda não fala muito sobre o assunto. A mãe não sai de perto e responde por tudo até que Aline tenha condições de falar tranquilamente sobre o que ocorreu.
“Nós vamos acompanhar todos os procedimentos para ter certeza de que Aline terá os direitos que lhe são garantidos. Esse é o nosso papel: estar perto, estar junto, olhar e acompanhar. A nossa missão é orientar e mostrar o caminho que todas as mulheres podem e devem seguir", declarou a secterária da SEPMulheres, Concita Maia.